Fim das férias escolares: o ócio e o tempo de estudo
31/jul/2018
Últimos dias de férias escolares e as crianças já começam a ficar apreensivas para o reencontro com os amigos, mas também com a retomada do ritmo escolar, com cumprimento de horários e estudos. Essa apreensão, apesar de normal nesse período, acaba preocupando pais e cuidadores, especialmente ao que se refere à transição entre o tempo ocioso e a volta às aulas. Alguns se preocupam com a necessidade de uma nova adaptação. Outros, com as possíveis dificuldades a serem enfrentadas com a volta das responsabilidades.
Primeiro temos que compreender que os tempos se misturam, não há uma barreira que imponha limites entre o tempo de ócio e o tempo de estudo.
Nada de compreender que as férias tenham servido para recarregar baterias, pois nessa ideia há uma ideologia mecanicista bastante cruel que sussurra aos ouvidos da mente que homens sejam máquinas e que as escolas são subservientes aos meios de produção e por isso são em sua essência opressoras e desgastantes. Férias e aulas devem viver em harmonia, ambas a serviço da pessoa, ambas precisam coincidir na felicidade; e embora sejam tempos bem distintos, nas duas devem ocorrer muitas aprendizagens.
As férias não devem ser consideradas apenas como um tempo de dar bobeira, embora ficar sem fazer nada tenha que fazer parte dela. As férias costumam ser um tempo que a criança ressignifica o que aprendeu na escola. Repare a alegria de uma delas, que ao ter acabado de apreender sobre o bioma dos pampas, no Ensino Fundamental, tenha viajado pela primeira vez ao sul do Brasil e norte do Uruguai. A criança se coloca no contexto social como um indivíduo interessado e mais maduro. Isso que é férias, isso é que é vida!
Penso que haja dois movimentos bastante básicos e fundamentais à mente, são eles: a ação e a reflexão. E ação e reflexão estão presentes nas férias e nas aulas. Se nas férias não tiver havido tempo para a ação de aprender, de ressignificar, ler e aplicar a inteligência no desenvolvimento privilegiado do que mais gosta, bem como se não tiver tido tempo para uma completa reflexão sobre o semestre que passou, considerando as alegrias que viveu, as frustrações e dificuldades que encontrou, terá desperdiçado tempo preciso para ter se oportunizado ao crescimento.
Após as férias, a rotina é retomada e o ritmo deve estar impregnado no modus vivendi do estudante, enquanto ser e os estímulos bem dosados, nunca excessivos e nunca ausentes. A alternância equilibrada entre ação e reflexão deve permear todo o tempo da vida. Quando se fala em ritmo/estímulo também deve-se buscar equidade, pois se o ritmo for em descompasso ao estímulo proposto, certamente haverá desperdício de tempo ou de conteúdo. Manter a mente ativa independe da atividade, e não existe o contrário disso para o ser humano, isto é a inatividade, pois quando a inatividade ocorrer para nós, deixamos de ser.
E, em se falando de rotina: uma palavra dura, que remete ao monótono, ao enfadonho, a mesmice. Em primeira análise, rotina lembra algo mecânico e bem chato. No entanto, precisamos compreender que rotina significa seguir uma rota e segue uma rota quem tem um norte, um objetivo para se alcançar, tem rotina quem compreende que seguir uma estrada não significa ver todo dia a mesma paisagem, pois o dia e a noite se alternam, bem como as estações do ano modificam o que se pode avistar ao longo do caminho.
A rotina nada mais é que um atalho, um catalizador de sonhos, se eu quero chegar ao meu destino, a estrada, com segurança, pode me conduzir até ele, assim é a rotina. Eu posso fazer dela algo diferente, mas essa diferença estará dentro de mim, encarando que para eu poder criar novos caminhos, descobrir novas rotas preciso aprender com aquelas que já foram abertas. A rotina deve ser encarada como forma de alternância e não de repetição sem significado. Fazer com que os filhos prestem atenção nos detalhes, certamente contribuirá para encararem que a rotina não seja enfadonha, mas sim sutil, eu percebo que o jardim da escola pode estar diferente, que o cabelo dos amigos pode ter mudado, que o perfume da professora pode ser outro, ao mesmo tempo que eu reencontro a segurança de manter as amizades que conquistei, o conhecimento que tenho sobre as coisas e principalmente a conservação do sentimento de pertença.
É importante que se reserve um tempo para a reorganização e quando se trata disso, compreendo que deva fazer parte da reorganização a própria reafirmação ou ruptura do que já estava sendo feito ou minimamente que seja uma revisão dos tempos e formas de como lidamos como o cotidiano dos tempos de aula. Os pais sejam primeiramente modelos inspiradores para seus filhos, mas não só modelos, mas sim integradores de um tempo onde não só os filhos, mas toda família, se reúne para uma atividade comum: planejar o segundo semestre, de forma que com tranquilidade e tempo suficientes possam fazer desde um simples arrumar de armários até mesmo uma reforma daquela planilha do cotidiano que habitualmente fica pregada na porta da geladeira.
Por Prof. Roberto Belmonte Júnior – Pedagogo e Diretor Pedagógico do Ensino Fundamental no Colégio Stocco desde 2009 com formação em Administração Escolar, Filosofia, Filosofia da Educação, Didática e Sociologia da Educação.