O Impacto da restrição ao uso de celulares nas escolas - Colégio Stocco

O Impacto da restrição ao uso de celulares nas escolas

09/out/2025

Uma abordagem integral para o crescimento dos estudantes

Como educadora, percebi que, nos últimos anos, o uso de celulares tornou-se um elemento constante na vida de crianças e adolescentes. Embora a tecnologia traga inúmeros benefícios, sua presença no ambiente escolar gerou preocupações, especialmente no que diz respeito ao impacto sobre o desenvolvimento social, emocional e cognitivo dos estudantes. A restrição ao uso desses dispositivos nas escolas não é apenas uma medida disciplinar, mas uma estratégia pedagógica que promove o crescimento integral dos estudantes. Este artigo explora os impactos positivos dessa prática, abrangendo benefícios socioemocionais, cognitivos e experiências internacionais que reforçam sua eficácia.

Legenda: criança com dispositivo eletrônico

Benefícios Socioemocionais: desenvolvendo habilidades para a vida

A restrição ao uso de celulares no ambiente escolar cria condições propícias para o fortalecimento das habilidades socioemocionais. Sem a distração constante das telas, os estudantes passam a interagir de maneira mais direta e genuína uns com os outros. Isso promove o desenvolvimento de competências como a empatia, o trabalho em equipe, a escuta ativa e a resolução de conflitos.

No Colégio Stocco, isso fez a diferença, pois os estudantes estão mais centrados, com melhora de foco, harmonia social e muito mais empatia um pelo outro.

Legenda: interação social dos estudantes no intervalo do Stocco

A Unesco destaca em seus relatórios que interações sociais face a face no ambiente escolar são fundamentais para o sentimento de pertencimento e para a criação de um clima escolar positivo. O fortalecimento de vínculos interpessoais não apenas melhora a convivência escolar, mas também prepara os estudantes para os desafios do mundo fora dos muros da escola. Essas interações diretas ajudam a construir uma base sólida de inteligência emocional, que será essencial para lidar com as complexidades da vida em sociedade.

Além disso, para adolescentes, que frequentemente recorrem aos celulares como um meio de fuga emocional ou distração, a ausência desses dispositivos no ambiente escolar incentiva a prática do autocontrole e o desenvolvimento de resiliência. Aprender a lidar com desafios reais sem depender do escapismo digital é uma habilidade que contribui diretamente para a autoconfiança e o crescimento emocional.

Benefícios cognitivos: melhorando a concentração e o aprendizado

Do ponto de vista cognitivo, a restrição ao uso de celulares favorece um maior foco nas atividades pedagógicas. Pesquisas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) indicam que o uso excessivo de dispositivos móveis está associado a uma maior dispersão e a um pior desempenho acadêmico. Quando os estudantes não têm acesso aos celulares durante as aulas, conseguem direcionar sua atenção para as tarefas escolares, melhorando significativamente o aprendizado.

Sob uma perspectiva neuropedagógica, essa prática fortalece áreas cerebrais relacionadas à memória, à criatividade e ao raciocínio crítico. Atividades que envolvem aprendizado ativo, como discussões em grupo e projetos colaborativos, se tornam mais eficazes quando os alunos estão plenamente engajados. Além disso, momentos de desconexão tecnológica permitem ao cérebro descansar de estímulos constantes, promovendo um equilíbrio saudável entre aprendizado e descanso mental.

Transformando espaços escolares em ambientes ativos

No geral, a proibição do uso de celulares transforma os espaços escolares, como recreios e intervalos, em ambientes mais dinâmicos e interativos. Esses momentos, muitas vezes tomados pelo uso de dispositivos, passam a ser preenchidos por brincadeiras, jogos e conversas que estimulam o desenvolvimento físico, social e emocional.

Para crianças mais novas, essas atividades favorecem o desenvolvimento motor e social, enquanto para os adolescentes, são oportunidades valiosas para fortalecer laços de amizade e habilidades de comunicação. Tais mudanças impactam diretamente o clima escolar, criando um ambiente mais acolhedor e cooperativo.

Legenda: Estudantes brincando com jogos que estimulam a cognição e a interação social

Experiências nacionais e internacionais: aprendendo com outros estados e outras nações

No Brasil, estados como São Paulo têm adotado políticas que limitam o uso de celulares em sala de aula, permitindo sua utilização apenas para fins pedagógicos ou em casos excepcionais, como emergências, com supervisão de pessoas responsáveis. 

A legislação nacional segue exemplos de redes estaduais como a do Rio de Janeiro e Roraima, que já implementaram restrições semelhantes antes. Em outros estados, por exemplo, audiências públicas têm discutido os impactos dessa medida, com especialistas e educadores destacando os benefícios para a concentração e o desempenho acadêmico dos estudantes. As polêmicas que o impacto poderia causar, ou não, foram diversas, até a decisão de implementação nacional.

Experiências internacionais

A restrição do uso de celulares em escolas não é exclusiva do Brasil. Países como França, Espanha, Dinamarca e Estados Unidos já possuem legislações que limitam o uso de dispositivos móveis em ambientes escolares. Na Flórida, por exemplo, foi implementada uma política rígida que proíbe o uso de celulares durante todo o horário escolar, incluindo intervalos e recreios. Estudos internacionais, como os realizados pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), indicam que o uso excessivo de smartphones está diretamente relacionado à queda no desempenho acadêmico, especialmente em disciplinas como Matemática.

Impactos na nossa escola

A restrição visa principalmente proteger os estudantes, promovendo a saúde mental, física e emocional, além de contribuir para a melhora da aprendizagem e do desenvolvimento socioemocional. Essa medida também incentiva a interação social entre os estudantes, fortalecendo o senso de comunidade e colaboração dentro do ambiente escolar.

Ao observar as práticas adotadas em diferentes estados e países, é possível identificar estratégias que podem ser adaptadas e implementadas de forma eficaz em outros contextos. O diálogo entre educadores, famílias e gestores é essencial para garantir que essas políticas sejam compreendidas e aceitas, promovendo um ambiente educacional mais saudável e produtivo.

Para os responsáveis, especialmente aqueles com filhos em idades escolares diferentes, compreender os benefícios dessa prática é essencial. Para crianças mais novas, a ausência de celulares na escola permite que elas explorem a criatividade e desenvolvam habilidades sociais e motoras por meio de brincadeiras. Aos adolescentes, essa medida os ajuda a encontrar um equilíbrio saudável entre o mundo digital e o real, favorecendo o foco nos estudos e a construção de relações mais significativas.

Em casa, os responsáveis também podem adotar práticas para equilibrar o uso de tecnologia, criando momentos de desconexão e interação familiar. Incentivar atividades em família e promover conversas sobre os benefícios da diminuição do uso de eletrônicos.

 O impacto positivo dentro do Colégio Stocco

No Stocco, a prática vem sendo bem aceita por nossos estudantes. Todo começo é complexo, pois acabamos de sair de um contexto gerado pela pandemia, que nos levou ao uso excessivo de mídias, telas e dispositivos eletrônicos. Os estudantes estavam habituados à facilidade que o aparelho oferecia no seu dia a dia.  De repente, percebemos, como educadores, que o aparelho em tempo integral dentro da escola, fazia com que esquecêssemos dos momentos de socialização. Com o surgimento da lei, fizemos conversas, tratativas e combinados, alterando a realidade da escola.

Alguns estudantes aceitaram prontamente deixar o aparelho de lado, outros tiveram mais resistência. Hoje, quase meio ano depois, percebemos que é significativa a mudança em nossos ambientes. Acontecem conversas na hora do lanche, interação no almoço, boas conversas e risadas, algo que até outro dia se via com menor intensidade nos nossos ambientes. Alguns estudantes, mesmo estando no mesmo ambiente, utilizavam dispositivos de celulares para falarem entre si. 

Hoje em dia, estes mesmos estudantes  usam jogos de cartas, de tabuleiro, de palavras, de estratégia, além de ampliarem a prática de jogos esportivos como forma de socialização e interação.

Legenda: Intervalo com jogos na biblioteca do Stocco

Na visão dos educadores da nossa escola, dentro da sala de aula também foi possível notar mudanças significativas comportamentais. O fato de não se ter o celular mais disponível em sala de aula promoveu um aumento dos desafios intelectuais para os nossos estudantes, que estão se permitindo participar mais das atividades acadêmicas, usando habilidades que estavam ficando quiescentes, já que  antes estes ficavam na dependência do dispositivo eletrônico como estratégia pedagógica predominante. Para dar certo, e fazermos sempre o melhor, o Stocco permite uma escuta ativa e acolhedora dos estudantes, usando a mídia e a tecnologia de uma forma pedagógica e orientada. O nosso propósito é tornar o ambiente escolar cada vez mais acolhedor e desafiador. E para isso contamos com todos vocês! 

Michelle Werhli Blaas – Orientadora Educacional do 9° ano e Ensino Médio

Profa Mestre, Pedagoga – Psicopedagoga Institucional e Clínica, Neuro psicopedagoga Institucional e Clínica, Neuropsicóloga Escolar, Especialista em Socioemocional

Referências

  1. Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Estudos sobre o impacto do uso de dispositivos móveis no desempenho acadêmico e na concentração dos estudantes.
  2. Unesco. Relatórios sobre tecnologia na educação e recomendações para o uso responsável de dispositivos digitais em ambientes escolares.
  3. Lei nº 15.100/2025, Brasil. Legislação que regulamenta o uso de celulares em escolas públicas e privadas.
  4. Políticas educacionais da França e Alemanha sobre a limitação do uso de celulares nas escolas.
  5. Brasil. Lei nº 13.663, de 14 de maio de 2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br. Acesso em: 16 abr. 2025.
  6. OCDE. Relatórios PISA: Impacto do uso de tecnologias no desempenho escolar. Disponível em: https://www.oecd.org/pisa/. Acesso em: 16 abr. 2025.
  7. França. Proibição de celulares em escolas: Lei de 2018. Disponível em: https://www.gouvernement.fr. Acesso em: 16 abr. 2025.
  8. GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Regulamentação sobre o uso de celulares em sala de aula. Disponível em: https://www.saopaulo.sp.gov.br. Acesso em: 16 abr. 2025.

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